Na terça-feira, leu-se no Evangelho (Mc 6, 34-44) a história da multiplicação dos pães. Fiquei pensando sobre as palavras de Jesus: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (ver. 36). Jesus convoca os discípulos a darem respostas ante as necessidades das pessoas. Não quer fazer o milagre sem contar com a participação, ainda que pobre e minúscula dos seus discípulos. Os discípulos, por sua vez, falam em gastar e comprar (veja no mesmo versículo). Mas, Jesus não entra no esquema do comprar e do gastar. Ele pergunta o que se tem para poder partilhar: "Quantos pães tendes?" (v. 38). Sem se preocupar muito em comprar ou gastar, o segredo parece ser partilhar o pouco que se tem. Eis o cenário do milagre: no palco da partilha, da comunhão de bens!
Pode ser uma dura denúncia numa sociedade onde comprar, tentar se preencher com o consumo exagerado e até compulsivo tem se tornado uma prática comum ou bem fácil de detectar. Nunca é demais lembrar que a vida de um homem não depende dos bens que ele possui. Já falamos algumas vezes neste espaço virtual sobre isso. Mas, nunca é tão demais assim. A estratégia de Jesus em envolver seus discípulos fala que o acúmulo e a posse egoísta não ajuda em nada quando se fala em resolver os problemas sociais e pessoais. Em meio aos mais simples e pobres esta lição é até vivenciada. Gente que partilha, que vive a comunhão de seus bens constrói algo nobre, algo novo e que se renova. É gente que entende que a vida dá lá suas voltas e é muito triste quando alguém é tão rico e autossuficiente que não venha a precisar da ajuda ou do socorro dos outros. Seria também inadimissível que nada tenha a oferecer quem é bastante pobre. No fundo, quando Jesus fala de partilha ele coloca seus discípulos naquela relação misteriosa e eterna que Ele vive com o Pai e o Espírito Santo na Bem-aventurada Trindade. Tudo é comunhão e partilha nos três. Ora, se fomos criados à imagem e semelhança de Deus, de um Deus família e comunidade, então não seremos felizes nem realizados isolados ou fechados em nós mesmos. Perdidos no acúmulo, tentando se preencher.... Sem conseguir, pois os bens materiais são imprescindíveis, mas se forem considerados um fim em si mesmos, então, ai de nós: estamos sob a tirania implacável de um ídolo que não se sacia a não ser com as muitas oferendas de bens e os que cultuam o ídolo do ter viverão sempre insatisfeitos. O motivo todo mundo sabe: porque a medida nunca é suficiente.