Não tenho a pretensão nem presunção de dar lições de vida nem de moral. Quero refletir e espero que ajude ou ilumine estas linhas que digitei para alimentar o blog. Se não conseguir, me dou por satisfeito pelo esforço. Penso e me questiono sobre os dias, os meses e anos que vivemos.
Os dias vão passando. O tempo realmente não espera por ninguém. Há quem viva simplesmente deixando a vida levar e assim, o fulano vai levando. Outros correm, correm pois a vida é compreendida como sinônimo de pressa. Outros ainda fazem tantas coisas que não podem parar. Tem também aqueles que buscam um equilíbrio e tentam dosar todas as coisas. Não estou julgando ninguém nem alguém, mas refletindo sobre comportamentos, para que ilumine os nossos, espero ser útil.
O tempo! há tantos sentidos para compreendê-lo! Os gregos que o digam. Eles classificavam em seu rico idioma vários conceitos. O tempo "cronos" (o tempo medido pelo relógio ou pelo calendário) é uma maneira de nos organizar, mas nunca para nos amarrar ou escravizar. Em um mundo que tenta se organizar ou até mesmo chegar a uma perfeição ou eficiência sem limites ou sem falhas, talvez haja uma escravidão ou mesmo um ídolo por trás deste conceito de tempo. Há o tempo "aion" ou seja, o tempo vivido na sua intensidade e não na sua extensividade. Explico-me: veja uma criança brincando. Ela é tão focada de um jeito que nada a distrai. Vive com profundidade aquele momento. Uma lição a ser aprendida com os pequenos. De fato, vivemos muito dispersos e o déficit de atenção é hoje um problemão. E aí? você está todo em tudo aquilo que faz ou vive despedaçado? Os afetos vão para um lado, a vontade para outro, a imaginação para outro.... Há o tempo "noético" (o tempo vivido como um sentido a ser dado ao que se vive. Em suma, não se vive por viver, mas procurando ter motivos, razões, dar uma base à existência). E os cristãos são chamados a viver o tempo "Kairós" (o tempo da graça): o tempo é favor de Deus, é dom que o Senhor nos dá para vivermos o seu projeto e assumirmos a missão que Ele nos confia.
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Para começar o ano é sempre bom pensar nisso....
A passagem do ano é sempre uma etapa que se conclui e outra que está para começar. Festa, fogos, alegria, cumprimentos e bons votos de feliz ano novo. Muito justo que assim se faça. Mas, fica sempre a palavra sábia do salmista: "Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria" [Sl 89(90), 12). Pode e deve ser tempo de balanço, de reflexão e exame de consciência. Se o tempo não for em função da eternidade, a vida passará com aquilo que não é eterno. Nossa história é fruto de escolhas, de atitudes. Haverá um ano novo se as pessoas se renovarem, amadurecerem, crescerem com os dias e anos que a Divina Providência nos dispõe para construir algo que dure, que prossiga e desemboque no definitivo
O tempo que nos foi dado (pois é dom de Deus). É bom lembrar que nosso status é de peregrinos, não de moradores definitivos. A ciência estuda mil modos e formas para alongar a vida e quem sabe, deixar as pessoas imortais. Que se ofereça sempre maior qualidade de vida, bem, é boa notícia. Alongar a vida porque se há condições razoáveis para isso, é cuidar de nós mesmos; e isso não deixa de ser bom, ainda que não deve transformar-se em obsessão ou fonte infindável de ansiedades. Mas, imaginar que os dias serão ilimitados é uma ilusão. Assim sendo, há que se entender que o tempo nos coloca no limite da vida. Um filósofo alemão, chamado Martin Heidegger dizia que o homem é um "ser-para-a-morte". É um fato! Basta observar que todos, "antes" ou "depois", mais "cedo" ou mais "tarde" haverão de morrer. Entretanto, não quero falar de morte só para assustar ou lembrar o que todos preferem esquecer ou dar lição de moral para as pessoas mudarem de vida. Quero falar da vida neste tempo que passa situada neste espaço que ocupamos ou melhor vivemos, onde somos e estamos. Mas, que não é nem será para sempre nossa morada. Se o tempo nos foi dado, é dádiva, é presente, então é matéria prima da vida, é oportunidade, é chance. O tempo é ferramenta e matéria prima de uma missão. Já pensou na sua missão? O que você veio fazer neste mundo? Qual o seu papel na vida dos outros, do próximo, do amigo ou do inimigo? Qual o sentido de sua ação diante dos acontecimentos e se não houve ação, por que você não fez alguma coisa? Fazer nada ou simplesmente deixar acontecer: para alguns é morrer, para outros é viver, para outros ainda tanto faz. E pra você? Diante de Deus, o que é viver?
Estas perguntas nos levam a ter foco! Isso! Onde quero chegar, o que quero alcançar, quais minhas metas? Quais minhas reais motivações e intenções para atingir esta meta?
Que isso ajude! Que nós mesmos nos ajudemos a não perder de vista o que queremos enquanto vivemos no tempo e no espaço, isto é, na história. E que acima de tudo e de todos, nos ajude o Senhor com sua graça para que nosso tempo se encha de plenitude. Se os capitalistas cunharam a fórmula "Tempo é dinheiro", os cristãos vão numa direção onde "Tempo vale eternidade". Saber que o para sempre é uma verdade e não uma utopia de gente que usa da religião para se alienar ou alimentar esperanças vãs, cabe a lembrança, fundada na fé, do que diz Paulo:
"A esperança não decepciona, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5, 5).
Que o seu tempo, caro Filoteu seja cheio de tanta humanidade e tanta eternidade.
