Caro Filoteu
Feliz ano novo. Mas, o que faz um ano ser novo? Apenas a passagem de um ano para o outro, onde fogos e tanta festa, emoção e comemoração vão dando os ritmos da celebração? Ano novo: quando haverá? O que faz um ano ser novo? - repito a pergunta. Toda passagem de ano quer oferecer um ponto de partida para o ano novo, um ponto de chegada para o fim de um ano que se vai
O tempo não perdoa, ele passa. E o que se vai fazer com o tempo que se vai? A crise do tempo parece tão implacável! As pessoas sem tempo, as pessoas tão cheias de coisas para fazer e para ter. E para ser? E para viver a gratuidade da vida? Sei lá! Acho importante não querer ser o super-herói, o máquina, o faz-tudo, o resolve-tudo ou o gênio da lâmpada de Aladim. É bom saber-se limitado e fraco, necessitado do Outro e dos outros. É bom entender que estamos na busca, somos peregrinos, não somos turistas. Não estamos caminhando em meio a garantias, para seguranças totais que o progresso ou as conquistas humanas nos proporcionem. Somente a verdade plena, a beleza incriada, a bondade sem limites poderá dar um sentido à essa busca, ao peregrinar entendido não como passos dados na direção do nada, mas visualizando pela fé um TUDO que nos aguarda e nos envolve no agora. Descobrir-se como peregrino! Descobrir-se como pessoa, como andarilho, como construtor de si. Sob a lamparina da fé, vamos dando passos, pouco a pouco. Ante a escuridão do que não sabemos ou do que não podemos, vamos tateando, usando com coragem e humildade as ferramentas que o Criador nos deu para resolver problemas, achar soluções, gerar progresso, ampliar horizontes, aproximar pessoas, fazer a vida prosperar. Mas, não é só isso! Há que se buscar um sentido para o viver, dar passos no encontro com uma felicidade que não é sinônimo de facilidade e está sendo dada por aquele projeto de vida que se realiza na loucura da cruz e se desdobra nos valores radicais do sermão da montanha.
Ano novo! Tempo novo! Onde no relativismo e na ótica da provisoriedade o eterno e o absoluto tornaram-se absurdos, os cristãos são chamados a viver a profecia do para sempre! Sim, a eternidade é só o desaguar de um peregrinar, de passos dados no rumo deste eterno que nos aguarda e nos envolve, nos convoca e compromete. Quem se agarra ao que passa, desesperado verá passar o que se apegou e passará também junto. Quem busca o que permanece verá quão breve é esta vida e, de fato, há tanto o que esperar, não perderá o sentido da liberdade genuína e escreverá na vida presente uma história que não será um amontoado de fatos e realizações. Será uma história de salvação! Sim, uma história onde deixamos Deus nos salvar, deixamos Deus nos alcançar e libertar sobretudo de nós mesmos. Ah sim: eis um ano novo. Um ano novo que não será um mero "Cronos" (um tempo medido, contado pelo relógio e pelo calendário), mas um Kairós (um tempo da graça, um tempo de salvação, tempo da ação de Deus).
Não perca tempo, caro Filoteu! Tempo, dizem os capitalistas, é dinheiro! Mas, para quem crê e ama, tempo é eternidade em possibilidade. E quantas possibilidades se escondem no tempo vivido com esta sabedoria que a fé nos convida a assumir para viver.
Eis o ano novo que te desejo! Feliz 2014 na perspectiva do Dia Eterno que Deus tem preparado para nós!
Um abraço e bênção do padre.